Arquitetura que reflete uma paixão
Texto: Naíza Ximenes
Fruto da paixão de uma senhora de 80 anos por orquídeas, a Orquidaria Rosita é o tipo de projeto que pode ser descrito como extraordinário. O local tem como proprietária uma cliente de longa data do arquiteto Jayme Bernardo, que quis transformar o hobby em um presente para a cidade de Curitiba (PR).
Em entrevista à Galeria da Arquitetura, Bernardo conta sobre o início do projeto com a proprietária. “Ela estava em Londres quando me ligou, dizendo ‘estou comprando os aventais para a minha Orquidaria’. Como o espaço já era dela há algum tempo, eu comecei a trabalhar logo em seguida. (...) Foi um projeto bem bacana, desde o início. Hoje é um dos espaços quase turísticos da cidade”, ele diz.
Depois desse início peculiar, o projeto foi tomando forma. O resultado foi um espaço que não apenas exibe mais de mil espécies de orquídeas, como também integra um café, tornando-se um ponto de encontro e contemplação na capital paranaense.
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A natureza como elemento arquitetônico
O terreno onde foi construída a Orquidaria Rosita apresentava um desafio interessante: um fundo de vale com uma vegetação já existente. Lá, a topografia irregular foi vista mais como uma oportunidade a ser explorada, do que como um desafio, já que essa natureza foi aproveitada para criar um microclima ideal para as orquídeas, respeitando as curvas de nível e preservando a vegetação nativa.
Além disso, a sustentabilidade foi um pilar central do projeto — responsável, inclusive, pelo reconhecimento internacional com um prêmio na Alemanha. Todos os aspectos de água, ventilação e energia foram planejados de forma que garantissem a captação de águas pluviais, o uso de vidros de alta tecnologia e a implementação de telhado verde. Esses são alguns dos elementos que contribuíram para a eficiência energética do edifício, que recebeu a certificação Zero Energy do Green Building Council Brasil.
São mais de mil espécies de orquídeas
A arquitetura da Orquidaria Rosita também é marcada pela simbiose entre modernidade e rusticidade, apesar de serem conceitos opostos. Logo na entrada, a dualidade fica evidente, já que há dois grandes beirais contrastantes: um de tijolos (o rústico), acoplado a um pergolado de metal preto na lateral, e outro de concreto e vidro (o moderno).
Na entrada, o pé-direito duplo proporciona amplitude generosa ao espaço interno, que permite a utilização de grandes panos de vidro nas laterais — garantindo, também, uma vista panorâmica do vale. Novamente, o contraste é o grande destaque. O piso de concreto e as paredes de tijolos foram combinados com forro de madeira ripada no teto e muitas estruturas em metal preto com vidro, criando sofisticação no ambiente.
O café e a galeria são integrados. O mobiliário industrial e a iluminação pontuada destacam as plantas e proporcionam um ambiente acolhedor e cênico. Já o paisagismo, concebido por Luiz Carlos Orsini, complementa a estrutura com jardins exuberantes e obras de arte de artistas brasileiros.
A ideia é exatamente essa... que o espaço envolva as pessoas e que, quando elas cheguem no final desse percurso, elas tenham uma coleção de orquídeas muito, muito bonitaexplica Jayme Bernardo.
Além das três estufas que abrigam as espécies de orquídeas, há uma sala de aula onde a proprietária oferece cursos sobre cultivo e cuidados com as plantas. Essas peculiaridades do projeto fazem da Orquidaria Rosita um espaço que atende tanto uma necessidade comercial quanto o desejo de criar um lugar de encontro e contemplação na cidade. Assim, o projeto ainda se destaca pela requalificação urbana que promove, transformando um espaço anteriormente subutilizado em um local vibrante e seguro.
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