Mundo Avon
Texto: Tais Mello
Do logotipo para a fachada, a cor vermelha invade a grande empena e o muro da construção provocando forte impacto visual em quem chega ao Centro de Distribuição (CD) da Avon – o maior da empresa no mundo, localizado em Cabreúva, São Paulo – pelo estacionamento de visitantes. “A tonalidade remete aos cosméticos femininos fabricados pela empresa norte-americana, representando o mundo Avon”, explica o arquiteto e autor do projeto Roberto Loeb. Parte do cenário, o espelho d’água de 200 metros de comprimento e 20 metros de largura remete a um fosso medieval.
A estrutura de concreto fechada nos quatro lados por vidros é acomodada por uma espécie de península onde estão instaladas a recepção e a sala de espera que acolhe o visitante. O bloco dos escritórios destaca-se pelas empenas triangulares de concreto aparente e o brise de madeira inclinado que protege e desenha a fachada frontal. Estruturado em vigas metálicas instaladas na frente dos caixilhos de vidro, o elemento revela a paisagem, propiciando privacidade para quem está no espaço interno. O vão entre os caixilhos e o brise permite a transferência de calor, a favor do conforto térmico. Ao fundo, volumes satélites abrigam as salas de reunião voltadas para o lado oposto da paisagem.
Conforto térmico
A obra, que recebeu certificação Leed Gold (Leadership in Energy and Environmental Design) concedido pelo USGBC (United States Green Building Council), valoriza a integração com a natureza e, sobretudo, acolhe de forma digna e agradável as pessoas que lá trabalham, bem como visitantes e fornecedores. Roberto Loeb revela que esta foi uma preocupação demonstrada pela empresa desde o início. “O CD pretende ser um exemplo internacional do respeito e do valor aos colaboradores e consumidores no mundo inteiro”, explica o arquiteto.
O CD pretende ser um exemplo internacional do respeito e do valor aos colaboradores e consumidores no mundo inteiro Roberto Loeb Na trilha da otimização dos recursos naturais, cada bloco dispõe de recursos diferentes, perfeitos para oferecer a melhor eficiência térmica ao conjunto. “A escolha eficiente elege materiais sustentáveis, implantação horizontal com utilização de jardim nas coberturas, revestimentos térmicos e cores claras”, declara o arquiteto.
No setor administrativo, por exemplo, foi projetado um brise de madeira. Já em todo o partido, telhas termoacústicas, usadas tanto na cobertura quanto nas laterais, garantem temperaturas amenas no interior. Longe de ser apenas uma solução estética, o paisagismo e a implantação do espelho d’água também melhoram as condições ambientais da área.
A cor vermelha invade a grande empena e o muro da construção provocando forte impacto visual em quem chega ao Centro de Distribuição (CD) da AvonFoto: Hélvio Romero
Sustentabilidade em foco
A certificação Leed Gold norteou inúmeras ações sustentáveis do projeto. No quesito luminotécnica, diversos tipos de lâmpadas artificiais foram destinadas a cada uma das áreas do CD. Luminárias com alto rendimento e baixo consumo energético utilizam lâmpadas T5 em todos os ambientes. No shopping do bloco A, com pé-direito de 10,5 m, elas estão posicionadas próximas às áreas de trabalho. Já no setor de warehouse foram usados sensores de presença que são acionados automaticamente somente quando a luz natural for insuficiente e houver a movimentação de empilhadeiras.
Ainda durante a construção, começaram os cuidados com o meio ambiente: desde estratégias de A escolha eficiente elege materiais sustentáveis, implantação horizontal com utilização de jardim nas coberturas, revestimentos térmicos e cores clarasRoberto Loeb controle de erosão e sedimentação até a gestão de resíduos e qualidade do ar no canteiro, realizada por uma equipe especialmente qualificada. Para preservar o meio ambiente, os sedimentos da obra seguiam por uma canaleta de drenagem com barreiras de gabiões e bacia de sedimentação. Assim, 99,75% dos resíduos gerados foram desviados dos aterros sanitários.
Quase uma vila
Anteriormente, o terreno onde foi implantada a empresa era uma antiga várzea de plantio de arroz, nivelada com um aterro de 1,30 m. Sobre essa elevação está o galpão, implantado sobre um talude e acessado por rampas. As outras edificações ficam no mesmo nível do terreno.
Idealizado como uma vila de interior, o campus fabril se constitui por vários blocos cercados por jardins e conectados por passarelas de vigas metálicas com pilares e lajes de concreto, e cobertas por vegetação. Ora são abertas, ora recebem paredes que, em determinados pontos, são interrompidas por vãos circulares, recortando a paisagem e a própria arquitetura.
À direita das passarelas estão os volumes do restaurante, da cozinha e do apoio médico e enfermaria; à esquerda, o jardim. A infraestrutura comporta estação rodoviária, centro comercial e creche. No restaurante com fechamento de vidro, totalmente transparente e iluminado, a tubulação de ar-condicionado é aparente e os pilares em forma de “V” invertidos e pintados em diversos tons de vermelho sustentam as duas águas do telhado. Ao longe, o amplo galpão de estoque e distribuição das encomendas faz o pano de fundo.